FILIPE IV EM TRAJE DE CAÇA TEMÁTICA Velásquez pinta esta tela no começo da década de trinta. A obra faz par com outro retrato similar do Cardeal Infante don Fernando. Ambos foram destinados à decoração da Torre da Parada. Esta construção se iniciou a pedido do Conde-Duque de Olivares, no âmbito do Palácio do Pardo. Tinha como função servir de pavilhão real de caça. Em seus aposentos principais só se colocaram quadros de artistas estrangeiros. Os quadros do sevilhano constituem uma exceção. Além de retratos reais, ele confeccionou várias obras sobre o mundo clássico e alguma paisagem de caça. A caça era uma distração típica de nobres e reis. Junto a esta faceta lúdica da caça, ela era utilizada também como prática integrante essencial na formação de príncipes e aristocratas. Exercício físico, equitação, coragem, astúcia, dotes de mando... tudo isso se desenvolvia na prática cinegética. ANÁLISE TÉCNICA E ESTILÍSTICA Velásquez pinta o monarca de corpo inteiro. Sua figura aparece em primeiro plano na composição. Parece encontrar-se numa colina e à sombra de uma árvore. Vira o seu rosto para o espectador, adiantando a perna esquerda. Sua atitude parece um pouco mais descansada que em outras imagens oficiais. Não se mantém a rigidez exigida nos retratos de figuras da realeza. O rei está vestido com uma roupa de caça. Um cachorro, signo de fidelidade, está sentado tranqüilamente junto ao seu amo. Ambas os personagens se situam num espaço natural que não foi pintado ao ar livre, é obra de ateliê. A mesma coisa acontece com o resto dos retratos reais que mostram um cenário mais ou menos similar. Apesar do fictício do fundo, o homem e o animal se encontram perfeitamente integrados na composição. O artista consegue uma sensação de profundidade mediante o esfumado progressiva da paisagem. A isso se soma a sucessão de planos e o tratamento de contrastes da luz. Esta se torna mais clara e suave no fundo, enquanto que o primeiro plano se encontra em penumbra. Só se ilumina o rosto do rei. INTERPRETAÇÃO Nesta tela torna-se a pôr de relevo a extraordinária capacidade técnica do pintor. Ele conseguiu uma cuidada feitura, tanto a nível dos detalhes, como em relação ao conjunto da composição. Figuras e paisagem se encontram perfeitamente integradas. O mestre retoma a estática paisagística de Ticiano, conseguindo um ambiente nebuloso e ideal. Com o claro-escuro ele ressalta em primeiro plano a silhueta do monarca. A árvore constitui o elemento de transição entre a natureza e o personagem. A pincelada empregada oferece diferentes qualidades, em função do efeito buscado. Faz-se mais leve e difusa, no fundo, sendo precisa na hora de definir o modelado da figura. O meio perfil do rei detém a atenção do artista. Mas este não descuida do resto da composição. Bom exemplo disso é o detalhe da mão enluvada que segura a espingarda. A mesma coisa acontece com a representação do animal. Velásquez utiliza uma iconografia similar em todos os retratos reais de caça. Estas composições serão retomadas séculos depois por outro dos grandes da pintura européia. Trata-se de Goya.